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Fatores desencadeantes de uma crise de enxaqueca

Quais o os fatores desencadeantes (triggers) mais frequentes que podem facilitar ou aumentar a probabilidade de desencadear uma crise de enxaqueca?

A enxaqueca é uma cefaleia incapacitante que pode ser classificada como episódica ou crónica (com base na frequência com que ocorre).

Um dos temas centrais na gestão do tratamento da enxaqueca é identificar e evitar os fatores desencadeantes ou precipitantes – os chamados “triggers” – que podem facilitar ou aumentar a probabilidade de desencadear crises. Contudo, isto pode ser um desafio para o médico na prática clínica e para o doente no seu dia-a-dia. As dificuldades incluem: (1) nenhuma substância ou estado atua como trigger para todos os doentes, (2) raramente um determinado trigger provoca sempre uma crise no mesmo indivíduo, (3) um ou vários triggers podem causar uma crise, e (4) alguns triggers podem também funcionar como tratamento. Para além disso, pode ser difícil distinguir os triggers dos sintomas premonitórios de uma crise de enxaqueca.

 

Triggers identificados 

Os triggers das crises podem ser factores do ambiente interno ou externo ao organismo. Os mais frequentemente reportados incluem: stress, alterações hormonais (nas mulheres), alguns alimentos, alterações do padrão de sono, estímulos sensoriais e variações do clima.

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Stress

O stress é o trigger mais frequente das crises de enxaqueca, reportado por 50%-70% dos doentes como um fator que pode preceder a crise em vários dias. Uma análise mostrou que subidas repentinas dos níveis de stress e reduzida atividade física nos (até 4) dias anteriores à crise de enxaqueca. Num outro estudo, os níveis de stress estavam elevados no dia antes ou no próprio dia da crise de enxaqueca. Por outro lado, existem estudos que demonstram uma associação entre a redução dos níveis de stress após um período de muito stress e a ocorrência de uma crise de enxaqueca.

 

Alterações hormonais

Até 50% das mulheres relatam um aumento da frequência das crises de enxaqueca no período pré-menstrual e uma redução dessa frequência durante a gravidez.

Num amplo estudo prospetivo, a menstruação aumentou em até 96% a probabilidade de ocorrência ou persistência de enxaqueca, e as crises foram mais prováveis nas fases pré-menstruais e menstruais,

Os níveis diminuídos de estrogénio são um trigger provável – o risco acrescido de uma crise de enxaqueca observado durante os períodos pré-menstruais, ou no 1º dia do ciclo menstrual, é consistente com esta hipótese. A perda de sangue pode também desencadear uma crise, e muitas mulheres reportam crises de enxaqueca nos últimos dias do período menstrual.

 

Dieta e hábitos alimentares

O jejum é reconhecido como um fator que contribui para as crises de enxaqueca, com diversos estudos a demonstrarem uma associação entre o jejum e o início de uma crise e uma correlação direta entre jejum e frequência das crises de enxaqueca.

A hipoglicémia (mais que a desidratação) tem sido apontada como a causa subjacente das crises de enxaqueca associadas ao jejum. Por outro lado, horas tardias de jantar e snacks noturnos estão associados a uma redução do risco de enxaqueca.

A obesidade é um fator de risco para a enxaqueca crónica – a obesidade (induzida pela dieta alimentar) altera a libertação do CGRP (péptido relacionado com o gene da calcitonina) e aumenta a sensibilidade trigeminal, contribuindo para as crises de enxaqueca.

 

Álcool

O consumo de álcool é um dos triggers mais referidos, mas está demonstrado que os doentes com enxaqueca são menos prováveis de consumir bebidas alcoólicas que os indivíduos saudáveis. Alguns metabolitos do álcool, como o acetato, podem contribuir para o desencadear das crises nos doentes com enxaqueca.

 

Cafeína

A cafeína é conhecida por proteger contra as crises de enxaqueca quando usada como terapêutica adjuvante. Mas níveis elevados de cafeína podem resultar em dependência, e a sua retirada pode exacerbar as cefaleias. Um estudo que avaliou o efeito da descontinuação da cafeína demonstrou melhoria na resposta ao tratamento da enxaqueca em 72,2% dos doentes.

 

Aditivos alimentares

Muitos aditivos alimentares, tais como nitritos e glutamato monossódico (GMS), podem atuar como triggers da enxaqueca em alguns indivíduos, e o seu efeito e frequência podem ter sido subvalorizados. Alguns aditivos alimentares são provavelmente fatores contributivos, mas não atuam como causa única das crises de enxaqueca.

Alguns “desejos alimentares” podem ser confundidos como triggers das crises de enxaqueca, mas são geralmente sintomas premonitórios dessas mesmas crises. O chocolate, por exemplo, é frequentemente citado, mas diversos estudos falharam em demonstrar uma associação entre o chocolate e o desencadear da crise.

 

Alterações climáticas

As crises de enxaqueca têm também sido atribuídas a fatores metereológicos como relâmpagos, alterações de temperatura, chuva e alterações na pressão barométrica. No entanto, um estudo demonstrou que embora alguns indivíduos fossem realmente sensíveis ao clima, a sensibilidade às alterações climáticas era menos comum que a percepção dos doentes.

 

Estímulos sensoriais

Os estímulos sensoriais como luzes, sons e odores demonstraram intensificar as crises de enxaqueca e alguns deles podem atuar como desencadeantes das enxaquecas. No entanto, é difícil determinar se tais estímulos instigam uma crise de enxaqueca ou se uma sensibilidade aumentada aos mesmos é um sintoma premonitório. Os odores são frequentemente citados como triggers, com 70% dos doentes a atribuir as suas crises a odores de perfumes, tinta, gasolina e outras substâncias. As crises de enxaqueca têm também sido atribuídas a odors ambientais tal como exposição a fumo.

 

Distúrbios do sono

Muitos estudos identificam as alterações do padrão de sono (dormir a menos ou a mais) como potenciais triggers das crises de enxaqueca.

 

Habituação

Os doentes com enxaqueca são frequentemente aconselhados a evitar os potenciais triggers identificados. No entanto, esta forma de atuação pode nem sempre ser a melhor. Existem dados que demonstram que a exposição de baixo nível e a longo prazo pode, de facto, reduzir a sensibilidade aos referidos triggers. Outros estudos sugerem que as tentativas para evitar estes triggers podem ser inúteis privando os doentes de realizarem ou aproveitarem atividades consideradas agradáveis.

 

Conclusão

Existem múltiplos fatores identificados como triggers das crises de enxaqueca. Muitos são difíceis de modificar e os sintomas premonitórios são frequentemente confundidos como triggers. As abordagens aos fatores desencadeantes podem variar,mas manter uma vida saudável e aprender a lidar com os potenciais triggers é uma abordagem fundamental na gestão da enxaqueca.


 

Referências

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